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A gripe espanhola foi uma pandemia que ocorreu entre 1918 e 1919, com início junto dos conflitos da primeira guerra mundial. A estimativa é que até um terço da população mundial tenha contraído a doença, com um número de óbitos que superou o da grande guerra, atingindo em torno de 100 milhões. 1
O mundo e a medicina eram bem diferentes naquela época, mas é possível traçar paralelos entre esse evento e o contemporâneo, por conta da covid-19. 1
Nesse post, vamos abordar as principais curiosidades e fatos sobre a gripe espanhola: como ela recebeu esse nome? Onde surgiu? Como se espalhou tão rápido?
Além disso, falaremos sobre as lições que a pandemia de Influenza deixou e que, eventualmente, foram úteis para enfrentar o coronavírus.
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Ao contrário do que o nome sugere, a gripe espanhola não surgiu na Espanha. Muitos pesquisadores afirmam que o vírus da Influenza H1N1, causador da pandemia, teria surgido no continente asiático e depois migrado para a Europa, entre 1916 e 1917. 1
No entanto, o primeiro caso oficial ocorreu nos Estados Unidos, mais precisamente em um acampamento militar chamado Fort Riley, em março de 1918. 1
Nesse local, o soldado Albert Gitchell, que atuava como cozinheiro, foi o primeiro a apresentar febre, dor de cabeça e na garganta. Com esses sintomas, ele foi para a enfermaria pela manhã. Até o fim do dia, outros 100 soldados apresentaram o mesmo quadro. 1
No mês seguinte, em abril de 1918, a gripe já atingia o status de epidemia, propagando rapidamente entre militares e civis, em especial nos grandes centros urbanos e na costa leste do país, de onde saíam as tropas americanas que iam lutar na França. 1
Agora você deve estar se perguntando: mas se não começou na Espanha, por que chama gripe espanhola? 1
Isso se deve ao fato de que a pandemia global aconteceu quando o mundo estava em guerra e se propagou aceleradamente entre as forças armadas, não só entre civis. Assim, noticiar abertamente o avanço da doença era visto como uma possível demonstração de fraqueza, que poderia ser utilizada pelos inimigos. 1
Muitos países em guerra decidiram censurar as informações sobre o avanço da crise na saúde, em prol da estratégia bélica. Uma exceção foi exatamente a Espanha, que não estava envolvida nos conflitos. 1
Logo, por ser a única grande nação notificando novos casos com frequência, a pandemia recebeu esse nome nada fiel à origem ou ao seu desenvolvimento. 1
Obviamente, os espanhóis não costumam chamar o evento dessa forma. Na realidade, cada país tem uma alcunha própria para a gripe espanhola, veja 1:
Como podemos ver, todos queriam se distanciar do evento, com medo da repercussão. Apesar de tantos apelidos, o que mais pegou no Brasil e no mundo foi mesmo Gripe Espanhola, como é conhecida até hoje. 1
O mais aceito é que a propagação iniciou entre os militares dos Estados Unidos, consequentemente atingindo parte dos civis. Depois, com o envio das tropas americanas para lutarem na França, a doença logo se espalhou pela Europa, onde ganhou força suficiente e acabou “exportada” para o resto do mundo. 1
A difusão do vírus ocorreu em três ondas. A primeira, como vimos, começou em março de 1918. A segunda foi a mais devastadora, ocorrida a partir de agosto do mesmo ano. A terceira teve início em janeiro de 1919. 1
Apenas áreas mais remotas do globo não foram afetadas. 1
A primeira onda, que foi de março a agosto de 1918, foi bastante contagiosa, mas causou um número relativamente baixo de óbitos. É também conhecida como onda expansiva, por ter começado nos Estados Unidos e alcançado, em poucos meses, países da Ásia, Europa, África e Oceania. 1
Com início marcado em agosto de 1918, no mês anterior a doença parecia ter perdido força. Porém, logo se percebeu que ocorria o contrário. Tanto a contaminação quanto a letalidade aumentaram. 1
Os sintomas eram similares à pneumonia e evoluíam muito rápido, pois não havia tratamento adequado. Em muitos casos, a pessoa falecia apenas 48 horas depois de sentir os primeiros sinais da doença. 1
Nessa época a gripe espanhola ainda se espalhava pelo mundo, chegando ao Brasil por volta de setembro de 1918. Nos últimos meses do ano, foi notado um declínio no número de casos, mas a pandemia estava longe do fim. 1
A terceira onda ocorreu a partir de janeiro de 1919. Com o fim da Grande Guerra, as tropas retornaram ao país de origem, levando o vírus H1N1 na bagagem, o que provocou um novo pico no número de casos. 1
Nessa época, quem sobreviveu à primeira onda já apresentava sinais de imunidade, o que ajudou a segurar o número de infecções e óbitos, ficando abaixo do que foi visto na fase mais crítica. 1
Os sintomas da gripe espanhola começavam com catarro, congestão, tosse e espirros. Depois surgiam as dores no corpo, na cabeça, nos ouvidos e na garganta, junto de febre acima dos 40 ºC, fadiga extrema, diarreia, vômito e insuficiência respiratória. Em 48 horas, o quadro de gripe já era capaz de ter evoluído para uma pneumonia ou síndrome respiratória grave. 1
Por onde passou, a pandemia de gripe causou colapso nos sistemas de saúde. Simplesmente não havia conhecimento suficiente para tratar a doença. Muitos medicamentos eram dados de forma preventiva, mas a maioria era ineficaz. 1
Em geral, o cuidado para aliviar os sintomas era feito com repouso, hidratação e alimentação, poucos fármacos eram úteis e sequer existiam antibióticos adequados. Para se ter ideia, os médicos prescreviam laxantes, purgantes, extratos vegetais, quinino e adrenalina, entre outros. 1
A gripe espanhola chegou ao Brasil em setembro de 1918. O consenso é que o vírus chegou a bordo de um navio inglês, fazendo com que os primeiros casos tenham ocorrido em regiões portuárias, como Recife, Salvador e Rio de Janeiro. 1
Mesmo com o cenário global, a imprensa brasileira não deu muita atenção. A gripe não se importou e continuou avançando. Embora o Rio de Janeiro, que era a capital do país, e São Paulo tenham sido as cidades mais atingidas, até mesmo as áreas mais remotas do Brasil foram impactadas. 2
Não existia forma de curar a doença ou aliviar amplamente os sintomas. Por esse motivo, o combate à gripe no Brasil foi feito principalmente evitando aglomerações e contato físico, além de reforçar os hábitos de higiene. 2
Eventos públicos foram cancelados e as autoridades indicavam que a população não saísse de casa. Houve recomendações para se afastar do trabalho, mas esse privilégio valia para pouquíssimas pessoas. 2
Estima-se que pelo menos metade da população mundial tenha sido afetada, mesmo que indiretamente. O número de casos e óbitos foi extremamente alto, fazendo faltar leitos e até caixões. Além disso, a maioria dos sobreviventes relatava sintomas de depressão e fadiga excessiva que duravam meses após o ocorrido. 1
Muitas das medidas de contenção vistas na pandemia de covid-19 foram ensinadas pela gripe espanhola, como é o caso das restrições contra aglomerações, recomendações de distanciamento físico e preocupação especial com a higiene, bem como o uso de máscaras para cobrir o nariz e a boca. 1
A crise de 1918 também mostrou como saneamento básico e a atuação conjunta entre os países seriam importantes para evitar novos eventos do tipo. Isso porque a falta de informação e colaboração entre as nações estava no centro do problema. 1
A gripe espanhola foi uma das maiores crises de saúde do mundo. Proporcionalmente pode ser considerada equivalente ou até pior que a pandemia de covid-19. O evento expôs muitas de nossas limitações e deixou lições importantes para lidar com infecções respiratórias. 1
Atualmente, o vírus H1N1 continua em circulação, mas o seu combate é muito mais fácil. A população tem mais chance de ter anticorpos, há vacinas contra a gripe e o tratamento dos sintomas é mais efetivo. 1
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